Sobre

A força das tradições artesanais norte-mineiras, da ancestrali­dade e das águas barrentas do São Francisco informa o univer­so singular de davi de jesus do nascimento, que temos o prazer de apresentar em nosso espaço.

Trabalhando em sintonia com os tons e os temas da terra de artesãos marceneiros, barranqueiros e carranqueiros onde nasceu – e de onde não quer sair –, o artista confronta a norma das artes visuais con­temporâneas em fazeres que amalgamam meios e matérias, fincam-se no chão de origem como princípio e fim, e dão vazão a um discurso próprio, carregado de poesia.

As águas guardadas, derra­nhos e aguamentos barranquei­ros reunidos aqui nascem de um lugar onde se enredam, intensa­mente, arte e vida. Se a conexão do artista com a fisicalidade dos elementos que constituem seu lugar no mundo e com as referências afetivas e culturais que o formaram e o sustentam é vital e comovente, ela produz, paradoxalmente, uma poética cosmopolita. Mirando a profun­deza de seu mundo e sua gente, ele acerta o veio universal dos afetos, do assombro diante da transformação forçosa de tudo o que é orgânico, da relação com uma natureza que sabe ser doce e ser rude.

Como já fez de fato em uma performance, davi de jesus do nascimento vai pelo mundo le­vando nas costas uma carranca de vinte quilos. Sua obra evoca berço e barco, peixe e família, origem e destino, e desvela um pedaço enorme do Brasil. Ligan­do pontos importantes, na boca da noite, os muruins integra-se ao projeto continuado de ilumi­nar produções artísticas que, desgarrando-se do esperado, acabam alargando mundos.

Instituto Çarê