Ocupação Çarê: Território Emboaçava
Ocupação Çarê: Território Emboaçava
Sobre
Por essa região de São Paulo, dois grandes rios serpenteavam: Jurubatuba e Tietê. Sua confluência era chamada Emboaçava, lugar de passagem, pedaço de caminho indígena, encontro de nações originárias. Para o invasor europeu, era uma porta a ser transposta, a entrada de um sertão cobiçado. Já no século 16, eles impuseram a tupiniquins, tupinambás e carijós do território suas armas e febres.
O grande pântano que restou do genocídio bandeirante seria uma das últimas partes de São Paulo a se urbanizar. Para olarias e galpões fabris, as águas insubordinadas da várzea eram o inimigo; pelo bem da construção civil, foram mortas e enterradas. Tietê e Jurubatuba, agora Pinheiros, retificados, minguaram na calha rasa. Rios mortos não dão vida, não ligam gentes, não nutrem comunidades.
Ecoando a história do Instituto Acaia, que se irradia a partir de um ateliê para alargar as perspectivas das comunidades à sua volta – e do Instituto Çarê, que vem para ajudar a construir aqui um bairro cultural e educador –, a Ocupação Çarê: Território Emboaçava convoca o poder da arte para desimpedir e curar.
Em Corre um rio em mim, o artista Rodrigo Bueno conjura elementos da natureza e da espiritualidade negra e cabocla, chão da sua prática, para dar vazão às águas apagadas do território e reclamar seu poder de nutrir, redistribuir e conectar. A ação abre poço, derruba muro, dá lugar ao fogo, planta jerivás – palmeira nativa que dominava a paisagem original – e acorda encantados em troncos mortos. Em torno de um centro-olho d’água, uma revoada de setas indica a direção de retorno, o trânsito das giras, o movimento circular do tempo.
A ideia de uma produção artística que vê a si mesma como vetor de transformação reverbera em Nossa vizinhança, exposição que se espalha pelo espaço à maneira de um encontro barulhento e desordenado com o outro. Ela reúne trabalhos de 25 artistas que também são educadores, muitos ligados à história do Acaia – como diretores, professores, aprendizes, ex-alunos que viraram mestres –, outros atuando na vizinhança real ou simbólica da escola.
Por tudo, a Ocupação Çarê: Território Emboaçava celebra a prática e a mágica dos fazeres que mudam rumos, preparam o terreno e plantam outros futuros.